domingo, 29 de janeiro de 2017

O sonho Escoteiro não acabou.


O sonho Escoteiro não acabou.

                  Não mesmo. Ele permanece firme. Arraigado e preso na mente e no coração. Não está amarrado com um nó comum. Não pode. Tem de ser um nó incrível. Nada de um direito, escota ou volta de fiel. Não. Está amarrado com o nó górdio. Aquele que ninguém nunca conseguiu desfazer. Aquele que um Rei, sem herdeiro, consultou seu Oráculo e este respondeu: - Seu sucessor chegará em uma carroça. O camponês de nome Górdio chegou e foi coroado. Amarrou sua carroça no templo de Zeus com um nó em uma coluna, nó impossível de desatar e que ficou famoso para sempre.

                 Esqueçamos que histórias são histórias. Quem sabe nossos sonhos são iguais. Podem não ser real, mas é realizável. Suas ideias serão levadas as brisas das madrugadas, aos ventos gelados do inverno, as tempestades do outono e nas nuvens brancas do verão. Em breve teremos um só pensamento. Teremos o sorriso mais grandioso de todos os tempos! Alguém ungido acima do bem e do mal irá decretar:

- (Artigo 1) – Ficam suspensas todas as taxas agora e sempre. A Associação é responsável para conseguir o suporte necessário em benefício dos seus associados. - - (Alínea A) - Abominaremos qualquer ato de força soberba ou de orgulho.
- (Artigo 2) – Só poderão ser escoteiros os amantes da paz. Nenhuma organização Escoteira poderá ter normas disciplinares com a finalidade de amedrontar e ameaçar.
- (Artigo 3) Fica determinado que seremos bons uns com os outros e o respeito fará parte de nossa vida escoteira. Todos os Grupos Escoteiros terão sua palavra levada a sério, pois eles são a razão do nosso Movimento Escoteiro.
- (Artigo 4) – Fica decidido que nossa fraternidade não tem fronteiras e não importa qual associação raça ou credo seremos todos irmãos.
Alínea B) - Fica decidido também que de norte ao sul todos terão a palavra, serão consultados sempre e com direito a votar e ser votado. Toda norma e diretriz deverá ter o consenso da maioria.
- (Artigo 5) - Elimina-se o Departamento Jurídico da UEB e cria-se em seu lugar o Departamento do Amor e da fraternidade.
- (Alínea C) – O Abraço o sorriso e o Aperto de Mão Esquerda será uma realidade.
- (Artigo 6) – Todos os membros Escoteiros que nos deixaram de qualquer idade serão convidados a voltar com honras de estado. Vamos receber de pé com aplausos os iludidos, os sozinhos, os menosprezados, os magoados, os que foram abandonados, os que foram destituídos e ninguém, nunca mais será esquecido.
- (Artigo 7) – Revogam-se as disposições em contrário!

                   Apenas um sonho de um Velho Chefe Escoteiro. Tenho certeza que terei seguidores nesta ideia. Seria fantástico que o respeito, a solidariedade, a amizade sem cobrança, o valor da palavra do Escoteiro, o exemplo e a bondade marque para sempre nosso caminho para o sucesso. Seremos sem sombra de dúvida a maior fraternidade que já existiu em toda a história! Bem vindo ao novo Escotismo.


Melhor Possivel - Sempre Alerta e Servir!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

As sementes Africanas no Escotismo. O Chifre de Kudu.


As sementes Africanas no Escotismo.
O Chifre de Kudu.

              Baden-Powell nos presenteou com muitas tradições e místicas que aos poucos estão desaparecendo da história escoteira. A busca incessante no que é moderno acabou com muitas destas tradições e hoje poucos ainda sabem para que servem. No meu alfarrábio “Simbolismo e Místicas Escoteiras” eu comento algumas delas. O Chifre de Kudu hoje é lembrado com uma das excentricidades de Baden-Powell. Em Gilwell Park para os que se aventurarem a uma volta a Gilwell certamente irá ouvi-lo. Até a década de setenta os Cursos no Brasil ainda utilizavam. Hoje pelo que saiba são poucos Formadores que ainda mantém a tradição. Vejamos sua história:

             O Kudu (Tregelaphus strepsiceros) é uma espécie de antílope cujo habitat vai desde a África do Sul á Etiópia. Um touro Kudu pode chegar a uma altura de 1,5 metros e tem uma coloração que vai de um cinzento avermelhado até quase azul. As suas características de visão aguçada, bom sentido de audição, olfato apurado e grande velocidade fazem dele um animal difícil de capturar. Seguindo uma tradição que remonta há 90 anos, as patrulhas são chamadas a reunir com o toque tradicional do chifre de Kudu, durante os cursos da Insígnia de Madeira. Pode parecer estranho que o chifre de um antílope africano, do tipo usado pelos Matabeles como clarim de guerra no século XIX, seja usado para chamar Escoteiros e Chefes por esse mundo afora. Mas foi precisamente com um toque deste chifre que os primeiros Escoteiros foram acordados nos primórdios do escotismo.

Quando realizou o primeiro acampamento em Brownsea, Baden-Powell lembrou-se do chifre de Kudu que tinha trazido das guerras contra os Matabeles, e usou-o para dar um toque de aventura e divertimento ao acampamento. De fato, foi durante o acampamento experimental de Brownsea, em Poole Harbour, no verão de 1907, que Baden-Powell colocou ao serviço do Escotismo, e pela primeira vez, o chifre de Kudu. William Hillcourt, um dos grandes pioneiros do Escotismo, o mesmo que escreveu o resumo da história de BP no final do «Escotismo para Rapazes», descreve assim a primeira alvorada em Brownsea: - "O dia começou ás 6h da manhã, quando BP acordou o acampamento com o som esquisito do longo chifre de Kudu em espiral - o clarim de guerra que tinha trazido da sua expedição à floresta de Somabula durante a Campanha Matabele de 1896".

John Thurman, grande nome do Escotismo britânico, conta como BP conheceu o chifre de Kudu: - "Como coronel na África, em 1896, Baden-Powell comandou uma coluna militar na Campanha Matabele. Foi num raid pelo rio Shangani que ele primeiro ouviu o som do chifre de Kudu. Ele andava confundido pela rapidez com que os alarmes eram espalhados entre os Matabeles, até que um dia se apercebeu que eles usavam o chifre de Kudu, o qual tinha uma grande potência sonora. Era usado um código. Assim que o inimigo era avistado, o alarme era tocado no Kudu, para todos os lados, e assim transmitido por muitas milhas em pouco tempo".

Depois da ilha de Brownsea, o chifre de Kudu voltou para a casa de BP onde permaneceu silenciosamente durante 12 anos, enquanto o movimento que ele anunciara se tornava moda e se espalhava pelo mundo fora. Então, em 1919, Baden-Powell entregou o chifre ao Parque de Gilwell para ser usado nos primeiros cursos para adestramento de Chefes. William Hillcourt comenta assim o início do uso do chifre de Kudu no Parque de Gilwell, na floresta de Epping, Inglaterra, a oito de Setembro de 1919:

- "O primeiro acampamento para adestramento de chefes feito em Gilwell começou a oito de Setembro. Seguiu o padrão que BP tinha usado com os rapazes em Brownsea, 12 anos atrás. O sistema de patrulhas foi novamente posto á prova com 19 participantes divididos em patrulhas e vivendo uma vida em patrulha. A instrução tomou a mesma forma que em Brownsea. Cada dia um assunto novo era introduzido e aplicado em demonstrações, prática e jogos. O chifre de Kudu dos Matabeles que tinha sido usado para chamar os rapazes em Brownsea foi usado para todos os sinais." - Dez anos mais tarde, aos 72 anos de idade, Baden-Powell levou consigo o chifre de Kudu para a abertura do 3º Jamboree Mundial, em Arrowe Park, Birkenhead, Inglaterra, a 28 de Julho de 1929. Foi constatado, pela experiência de Arrowe Park, que fazer soar o chifre de Kudu é um desafio. Os resultados, no entanto, foram tão impressionantes quanto se poderia desejar, segundo as palavras de William Hillcourt:

            "O dia da abertura do 3º Jamboree Mundial começou com uma forte chuvarada que aumentou com o passar do dia; mas, à hora prevista... o tempo tornou-se «ameno». BP tinha trazido consigo para Arrowe Park o velho chifre de Kudu dos dias da guerra com os Matabeles e que tinha sido usado para acordar os acampados em Brownsea no primeiro acampamento de escoteiros do mundo e para abrir o primeiro curso para chefes no Parque de Gilwell. Levou-o aos lábios para dar um toque que haveria de ecoar pela extensa parada em frente dele, mas, com o excitamento, os lábios recusaram-se a fazer o que deviam. O som do chifre não passou de um fraco «pff». No entanto, como que chamados para a ação pelo chifre, a marcha começou, com os contingentes a desfilarem atrás de contingentes em frente da plateia, com as bandeiras de quase todas as nações civilizadas desfraldadas ao vento, com milhares de pessoas a aplaudirem cada nação entusiasticamente.”.


             Ainda hoje o chifre é usado para reunir chefes em cursos de formação em todo o mundo. Para todos os que seguem as pegadas do fundador, é um viver do Escotismo no seu melhor.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O Velho Chefe dançou e quase se escafedeu!


O Velho Chefe dançou e quase se escafedeu!

                   De longe eu vi a multidão na porta da minha casinha. - Pegou fogo? Morreu alguém? Respirei fundo e tentei correr. E quem disse que consegui? Só doze passos e mais nada. As pernas que não colaboravam me deixaram na mão. Ofegante tentei o passo escoteiro e nada. Um vizinho veio correndo me encontrar: - “Seu” Osvaldo, calma é a Policia Federal e a Ministra Carmem Lucia presidente do Supremo. – Putz grila! Qual o motivo de sua visita? Será que falei demais? Será que ela está de conluio com a DEN e o CAN dos Escoteiros do Brasil? Cheguei de mansinho. Célia servia um cafezinho mineiro para ela. Tinha feito um bolo de chocolate na véspera e ambas parlavam coisas de mulher. – Bom dia! Cumprimentei. Ele me olhou enviesada. – Seu marido? Celia balançou a cabeça. Desculpe Célia, mas ele é feio demais!

                 - Vado Escoteiro, sou mulher de poucas palavras, portanto vamos aos entretantos e os finalmente agora. – Estou convidando o Senhor para Substituir o Ministro Teori Zavascki na Lava Jato. Não confio em ninguém e me disseram que o senhor além de chato de galocha, é danadamente ético escoteiramente. Já reservei uma casa à beira do lago Paranoá para o senhor e Dona Celia morar enquanto estiverem em Brasília. Terá quinze juízes da segunda instância como auxiliares. Convoquei vinte chefes quatro tacos e a diretoria da UEB para servir a suas ordens. - Dona Presidenta desculpe, mas dispense a turma da UEB. Eles não são confiáveis, pois não gostam de confiar e nem de trocar ideias com os demais voluntários escoteiros. Se aceitar eu mesmo irei convidar o Chefe Mané e o escoteirinho de Brejo Seco. Com eles me sinto melhor e trabalharei com vontade.

                  - Olhe Chefão, - Presidenta, não me chame de chefão, sou uma simples ordenança a ajudar quem precisa. – Certo, arrume sua bagagem e vamos partir! – Poxa Presidenta, dá um tempo, pois tenho que retirar minha mochila do Baú onde guardo minha tralha usada no tempo das diligencias. – Eis que de supetão adentra na sala o Presidente Temer. – Carmem, ele disse – Não combinamos em promover o Kinder Ovo? (apelido dado pelo Simão da Folha ao Ministro Alexandre de Morais) - Porque levar este Chefe que está mais prá lá do que prá cá? Se quiser mando um jato da FAB levá-lo diretamente para a Penitenciária de Alcaçuz no Rio Grande do Norte! – Olhe eu gostava do Temer, mas agora o danado me desafiou. – Célia me faz um favor, pegue meu bastão com ponteira de aço de duas e meia polegada no porão. Vou mostrar a esta cambada da presidência com quantos paus se faz uma canoa!

                  - Nem vi o Ministro Gilmar Mendes entrando. – Foi logo falando: - Carminha, a vaga não era minha? – O Lewandowski ministro gritou lá do portão: - Artigo 35 do Regimento Interno, alínea C, nenhum pé rapado do escotismo pode assumir cargo no Supremo! – Este moço precisa de uma bastonada – pensei. Isto está virando um escambal. Nem bem o nosso querido Teori Zavascki foi para sua estrela no céu e aqui em baixo todo mundo querendo seu cargo. – Um grito se fez ouvir na rua em frente a minha casa. – Alguns dos chefões da EB chegaram com o Juiz Sérgio Mouro amarrado a um tripé com sisal velho de acampamento e gritando para botar fogo nele! Quando dei por mim meu bastão de duas e meia polegada com ponteira de aço estava zunindo no ar!

                     A Ministra desamarrou Sergio Moro e me ajudou a fugir daquela bagunça na Rua onde Moro. Ops! Não confundir com o Juiz. O Presidente Temer me pegou pelo ombro. – Chefe! Desculpe, sei que é limpo de corpo e alma, mas as 76 delações premiadas vão me levar para Curitiba! Precisa me ajudar! Estava gostando da ministrada do Temer, dos senadores e deputados tremendo de medo das delações. Que eles pagassem pelo que fizeram. – Falei então a Presidente Carmem: - Olhe aceito, mas que o Lula passe uma temporada na Papuda em Brasília e mais uns três anos no Complexo Médico-Penal de Curitiba. A rua ficou tomada de Policiais da PM, Federais, e no céu trinta helicópteros da Aeronáutica sobrevoavam minha simples mansão onde mora o Balu, o urso que hibernava em Osasco.


                     Um cara de vestimenta com a camisa fora da calça e de chinelinho de dedo se dizendo “devogado da EB” gritava que ia me levar às barras dos tribunais! Outros chefes amigos que estavam de caqui bem uniformizados e lindos de morrer gritavam sem parar: - Viva Baden-Powell! Levei uma mosquetada na cabeça, muito sangue, caí zonzo. – Cadê meu bastão? Gritava sem parar... Celia de novo me socorreu, marido, marido! Acorde! Chega destes pesadelos! – Acordei e vi pela minha janela pardais cantando como a saudar um novo dia.  Porque sonhar assim? Não me meto não quero ser o salvador da pátria. Alguém bateu a porta. Célia finja que não tem ninguém em casa. Não quero ser ministro, presidente e nem Escoteiro Chefe. – O Carteiro desistiu e deixou a correspondência no portão. Era uma cobrança antiga que não paguei!

domingo, 22 de janeiro de 2017

As Fantásticas místicas da Insígnia de Madeira e suas contas.


As Fantásticas místicas da Insígnia de Madeira e suas contas.

                    Há uma profusão enorme de membros por todo o Brasil e no mundo de dirigentes de cursos da Insígnia da madeira. Hoje classificados em DCB (Diretor de Curso Básico) e DCIM (Diretor de curso da Insígnia de Madeira) tem uma escola própria oriunda de Gilwell Park para chegarem a tal honraria. Honraria? Claro que sim. A uma boa gama de escotistas interessados a atingir o patamar de Dirigente de Curso e aqueles que conseguem o Titulo máximo se sentem honrados com tal distinção. No passado os DCC (deputado Chefe de Campo) e AKL (Akelá Líder) eram considerados os mestres escoteiros e muitos chamados de Velho Lobo, uma terminologia oferecida aos grandes navegadores e homens do mar, tal qual o Lobo do Mar. O Almirante Benjamim Sodré foi um dos precursores a receber este título. Já escrevi sobre ele em outro artigo. Com a implantação em Gilwell Park de cursos escoteiros, foram adicionadas contas para designar o grau de formação do Chefe portador da Insígnia. Interessante notar que as contas originais não eram simétricas, variando de tamanho e espessura, o que é natural vez que o Colar de Dinizulu (o IziQu) foi feito a mão.

                           Nota-se que as contas originais que serviram de base para a produção das réplicas eram menores do que aquelas utilizadas atualmente. De todo modo a Insígnia de Madeira padrão possui duas contas. À medida que o Chefe participa de uma série de cursos e é escolhido por um dirigente máximo ele passa a ter três contas tais como os DCB (diretor de Curso Básico). A Insígnia do Chefe Diretor de Curso da Insígnia de Madeira possui quatro contas. Conta-se que só existem duas Insígnias de seis contas. A primeira usada pelo próprio Baden-Powell. Além dele foi seu amigo próximo desde o tempo do Acampamento de Brownsea Sir Percy Everett que recebeu a honraria pelo próprio B-P como um presente de reconhecimento pelos bons serviços prestados à causa. A Insígnia de Madeira com seis contas de Sir Percy Everett, foi doada ao Movimento Escoteiro para ser usada pelo escotista que exercesse o cargo de Diretor de Campo de Gilwell Park.

                    Existe uma dúvida que muitos perguntam. - Se temos uma Insígnia de quatro e seis contas não deveria haver uma de cinco contas? Ela existiu sim, era dada exclusivamente para os chefes Escoteiros especialmente designados para levarem o Curso da Insígnia de Madeira para seu respectivo país. Recebia o título de “Deputy Chief of Gilwell Park” sendo considerado um representante de Gilwell naquele país. Segundo Peter Ford, do Departamento de Arquivos de Gilwell Park, não existe um registro fidedigno de quais chefes tiveram o direito de usar a IM com seis contas. Francis Gidney o primeiro Chefe de Campo de Gilwell Park de 1919 a 1923 e diretor do primeiro curso da Insígnia de Madeira em setembro de 1919 não deixou nenhuma anotação dos seus cursos. Durante a gestão de Francis Gidney fizeram o curso em Gilwell os seguintes escotistas de destaque: o Padre Jacques Sevin, fundador da Scouts de France (percursora da atual Scouts et Guides de France), e que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da França, em 1923, em Chamarande nas proximidades de Paris; o chefe C. Miegl, que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da Áustria, entre 8 e 17 de setembro de 1922; e por fim, o chefe Jan Schaap que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da Holanda, em julho de 1923.

                      Apesar do pioneirismo de cada um, conforme dito anteriormente, não há registro de que eles tenham recebido o título de Deputy Camp Chief, nem que tenham usado a Insígnia de Madeira com cinco contas. Talvez o caso mais famoso envolvendo a Insígnia de Madeira com cinco contas seja o de William “Green Bar Bill” Hillcourt, da Boy Scout of America (BSA). O que ocorreu foi que demorou muito tempo para que o Curso de Insígnia de Madeira fosse adotado pela BSA. As primeiras tentativas, tanto por Francis Gidney quanto por John Skinner Wilson, de implantar o curso nos Estados Unidos, não lograram êxito como nos demais países. O próprio William Hillcourt só recebeu a sua Insígnia de Madeira quando fez o curso em 1936, dirigido por John Skinner Wilson no Schiff Scout Reservation, em Nova Jersey, USA. Nessa época a Insígnia de Madeira com cinco contas já não era mais utilizada, e o cargo de Deputy Camp Chief (D.C.C.) já havia sido extinto.

                      Após isso, demorou mais de uma década para que ocorresse, o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da BSA. Isso não só por conta da eclosão da Segunda Guerra Mundial, mas principalmente devido a dificuldades de adaptação. Por fim, o curso acabou acontecendo em 1948, quase 30 anos depois dos primeiros cursos de Gilwell Park. Todavia, apesar do uso da Insígnia de Madeira com cinco contas ter terminado quase vinte anos antes, William Hillcourt, sempre alegou que deveria tê-la recebido, por ter sido o diretor desse primeiro curso promovido pela BSA. Importante lembrar além das contas do Anel de Gilwell. Pergunta-se muito quem foi o autor deste Anel. Dizem que foi Bill Shankley, que com 18 anos era um dos dois funcionários permanentes de Gilwell Park. Utilizou o nó “cabeça de turco” da época que os marinheiros faziam formas decorativas com cordas como hobby. Empregou originalmente uma correia de couro de máquina de costura. Apresentou sua ideia ao Chefe de Campo que a aprovou. Isto tudo no início da década de 1920.


                          Não podemos deixar de ressaltar também o pioneirismo dos Chefes George Edward Fox, que era inglês, e que foi o primeiro portador da Insígnia de Madeira a atuar no país (ele fez o curso em Gilwell Park e recebeu a Insígnia entre 1921 e 1924), e do Chefe David Mesquita de Barros, que era português, e que fez o curso de Insígnia de Madeira em 1929, em Capý na França. Atualmente há uma orientação de que o uso de mais de duas contas na Insígnia de Madeira deve estar vinculado à realização do curso correspondente naquele ano, e assim mesmo, apenas pelo chefe diretor desse curso. Por outro lado, existe ainda uma forte tendência em Gilwell Park no sentido de se utilizar a Insígnia de Madeira com apenas duas contas, inclusive para os chefes que venham a dirigir algum curso de formação.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Quando termina a motivação Escoteira.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação Escoteira.

                     O escotismo como qualquer associação onde voluntários se interagem, é comum haver falta de sintonia levando muitas vezes o voluntário pedir demissão e na maioria dos casos nunca mais voltar. São muitos relatos reais de chefes que passam por isto. É difícil aconselhar. Cada caso é um caso. Quem não passou por esta fase? Tem hora que você desanima. Dá vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o caminho que estão seguindo não leva ao sucesso. Temos muitos chefes motivadores, mas existem casos que não adianta e nem frases motivadoras ajudam. Aquela motivação quando entramos já não é mais a mesma. O escotismo é interessante. No início tudo são flores, sorrisos, promessas, alguns até deixam as amizades que tinham em troca das novas que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais chegados se espantam com tanto carisma, com tanta demonstração de alegria que ele acredita ter alcançado um novo patamar de uma nova vida. Eles dizem que agora tem uma nova filosofia de vida. Seria assim mesmo?

                  Muitos grupos tem estrutura arcaica e na sua maioria dirigida por um líder que fica anos e anos no poder. Se ele este líder não sabe liderar e se for daqueles que pensa ser insubstituível é difícil extirpar o mal, se é que existe algum mal. Na maioria dos grupos bem estruturados existe uma democracia consistente onde um Conselho de Chefes realizado mensalmente, aparam arestas e isto traz a paz e a tranquilidade. Mas convenhamos nossa estrutura infelizmente é servil e dificilmente aceita ser contestada. Dizem os poetas que o que mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a teimosia de não reconhecer os próprios erros.  Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Cada caso difere do outro e não fácil superar. Afinal temos nossa família, nossa atividade profissional e até amigos fora do escotismo. Então quando aparece a falta de ética, de amor, de sinceridade, transparência e lealdade dos que se dizem irmãos de todos tudo se complica. Nesta hora sentimos que a falta de entendimento nos dá vontade de seguir outro caminho.

                 Se notarmos bem a matemática Escoteira é simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Somando as reuniões de sede, acampamentos e excursões quem sabe podemos chegar ao máximo há quinhentas horas anuais. Pensemos que na maioria das vezes temos nove meses de atividade por ano, pois muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se eu estiver certo dedicamos cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem aqueles mais abnegados com o dobro de horas doadas ao Movimento Escoteiro. Para uns uma eternidade para outros muito pouco. Mas porque então o desanimo? Penso que existem vários motivos, mas para mim o principal deles é a decepção com o ser humano. Quando começamos pensamos que o escotismo é um mar de rosas, que a Lei e a Promessa são levadas a sério por todos que participam dele. Muitos se dizem líder e seria esta a liderança que esperamos? Liderar é saber ser liderado e isto não é tão fácil. O pior são aqueles déspotas, que com o tempo a gente se sente ameaçado por uma força opressora que muitas vezes não tem mais retorno.

                Faz-nos muita falta um aperto de mão carinhoso e sincero. De um abraço fraterno, de um sorriso gostoso de uma palavra de carinho principalmente daqueles que convivem no mesmo ambiente já que ali deveria ser a nossa segunda família. Tem aqueles que nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos, mas têm aqueles outros que nos veem como indesejáveis, subservientes, dispensáveis, e se pudesse diriam: - Você está aqui para servir e não ser servido! E nesta hora que vem aquele desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às favas. Há sempre uma força para nos segurar. O nó na garganta demora a desaparecer. A promessa que fizemos nos atou nos sonhos escoteiros e então acreditamos que devemos dar a volta por cima. Mas chega um dia e ele vai embora. Afinal pensou que o escotismo seria uma fraternidade de irmãos e não foi. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos de adultos voluntários e foram desconhecidos como tal.

                  Dizem que nosso movimento é obediente e disciplinado. As diretrizes nos são impostas pela associação de maneira quase sempre ditatorial. Nunca somos consultados e sempre exigidos. A liderança se acha dona da verdade seja ela nos mais altos escalões ou nas unidades Escoteiras. Muitas vezes somos ameaçados, somos exigidos e nem lembramos que não temos salário e se estamos ali é para ajudar. A associação peca por não valorizar o voluntário. Ela às vezes esquece que não está lidando com funcionários pagos. No Escotismo Brasileiro somos voluntários para tudo. Para organizar uma sessão, um grupo, correr atrás para suprir necessidades e no final das contas muitos gastam do seu próprio bolso pensando em ajudar. Isto tem reconhecimento? Que eu saiba não. Esperar um elogio uma ação qualquer de um superior é quase impossível. Nosso movimento é o único que o voluntário paga para ajudar e colaborar. Uma utopia sem tamanho.

                       Seria tão bom se fossemos realmente o que preconiza o escotismo. Uma fraternidade, confiança, lealdade e acreditar na palavra de cada um. Difícil alguém nos dizer que somos importantes e até mesmo nos agradece seja formal ou informalmente. Não digo que somente um certificado de gratidão ou uma condecoração seja essencial. Isto teria de ser espontânea e sem o caráter burocrático. Ninguem que eu saiba recebeu de seu distrito, região ou mesmo a UEB uma cartinha parabenizando pelos anos prestados ao escotismo, ou melhor, quando do seu aniversário anual. Vamos esquecer o ano novo o natal que vem embutido em um site e se quisermos tomar consciência temos que ir até lá. Será que faltam recursos para uma correspondência? Poderia ser até um e-mail individual, mas não. Os recursos que nossos órgãos conseguem são para outras necessidades. Para o voluntário se espera seu pagamento anual ou taxas nos programas que são realizados por nossos dirigentes.


                     Eu costumo dizer que devemos lutar pelo que acreditamos. A estrada Escoteira é cheio de pedras e espinhos para atravessar. Sem alguém para nos dar apoio é difícil prosseguir. Sei que são milhares entrando e outros milhares saindo. Uma rotatividade cruel. Muitos no auge dos seus conhecimentos vão embora. Sei que não existe solução mágica. Precisamos de uma UEB uma Região Escoteira mais próxima do voluntário. Sem eles não somos nada e nada faremos por esta juventude tão necessitada de uma ajuda na sua formação moral. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A Esperança




A Esperança

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a Crença do fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro -- avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar; descansa!

domingo, 15 de janeiro de 2017

O maior Jamboree Mundial já realizado no mundo. Relembrando sonhos. Somente sonhos!


O maior Jamboree Mundial já realizado no mundo.
Relembrando sonhos. Somente sonhos!

                   Isto mesmo, já pensou? O maior Jamboree Mundial e no Brasil? Onde a participação seria livre? Sem exigências? Seriam bem vindos todas as associações Escoteiras do Brasil e do mundo, sem importar suas ideologias? – Irmão Escoteiro, um orgulho recebê-los aqui! E ai um sempre alerta, ou melhor, possivel, um aperto de mão sincero e um abraço de amigo para amigo. Seria o Jamboree da fraternidade.  Dez mil vinte, cinquenta ou cem mil Badenianos. Uniformes de todas as cores sem distinção. Seria próximo a um grande lago onde os Escoteiros do Mar pudessem desembarcar e fazer suas atividades, e também um aeroporto para que os Escoteiros do ar pudessem voar em um aeroplano, esbanjando felicidades nas asas da imaginação.

                 Seria permitida a participação de lobinhos e lobinhas em acantonamentos próximos, pois não haveria limite de idade. A meninada brasileira e mundial ficaria perplexa! Que linda atividade diriam. Seria mesmo. Ali não haveria discriminação. Europeus, africanos, australianos, asiáticos, americanos, pobres ou ricos dando as mãos numa fraternidade sem igual. Um sonho? Pode ser. Mas porque não convidar grandes empresas para patrocinar? Porque não pedir a Força Aérea para colocar aviões a disposição dos Escoteiros do norte e do sul gratuitamente? Se ministros e presidentes tem direitos porque não os escoteiros? Que tal convidar o Exército e a Marinha? Afinal mesmo com esta implicância com ordem unida tenho certeza que iriam colaborar com prazer. Porque não procurar a FIESP e pedir a ela uma colaboração? Afinal seu presidente sempre diz que é Escoteiro, contou “causos” de acampamento e falou bem do nosso escotismo em um programa de TV.

               Que tal a Coca-Cola? Que tal a Petrobrás? Mesmo roubada ela pode ajudar. Que tal a Vale do Rio Doce? E os Políticos? Não. Isto não. A Lava Jato acabou com seu prestígio. Afinal sempre teria algum dirigente querendo colocar neles um lenço Escoteiro. Necas da tal Frente Parlamentar. Quem gosta dela é o Juiz Sérgio Moro. Risos. Voltemos à realidade. Uma enorme Lista. A Votorantim estaria presente. A TAM e a GOL. A Embraer poderia ajudar. E o Carrefour? O Extra? A Wal-Mart? Não nos esqueçamos do Ceconsud, do Zaffari, dos Irmãos Muffato, do Condor Super Center, do Supermercado de BH, do Sonda Supermercados para colaborarem na alimentação destes milhares e milhares de jamborianos. Empresas boas não faltam, falta empenho de quem tem poder no escotismo. Não seria um sonho, até o escoteirinho de Brejo Seco iria participar.

                        Teria que ter uma organização perfeita. Não seria difícil. Chame aquele Chefe humilde do Grotão do interior. Ele é bom nisto e como ele temos centenas. São mateiros perfeitos. Pessoas assim é que precisamos na linha de frente. Chamem a Professorinha. Temos milhares delas. São Akelás, assistentes das melhores. Esqueça os chefões da corte ou daqueles que tem castas. Como somos irmãos de sangue vamos deixar que eles participem em um Subcampo próprio com cerca eletrificada. Colocaremos um batalhão policial para tomar conta deles. Só podem sair acompanhados. Risos. Coitados, nada disto, pois são irmãos de sangue. Eles serão livre para andar e voar como todos.

                     A impressa teria um lugar especial, toda ela sem exceção. Vamos chamar bons relações públicas Escoteiros e que saibam se entender com eles. Existem muitos por aí. E depois de escolhido o local, e de enviar carta convite (sem essa de SIGUE, vamos escrever, pois assim o convite tem mais seriedade) vamos pedir sugestões, vamos conversar, vamos dar a cada um o direito de opinar. Isto meus amigos é democracia. Será uma apoteose. Iremos ser reconhecidos como um grande movimento educacional e que sabe crescer com as próprias pernas acreditando no amanhã. O convite seria assim: - Meus amigos Escoteiros e escoteiras. Estamos convidando vocês para o maior evento mundial já realizado em todos os tempos na Floresta da Esperança, bem perto da Cachoeira do Sonhos, onde se pode avistar a Montanha da Felicidade. Fazemos questão de sua presença mesmo se não puder pagar!

                  Já pensou a alegria da escoteirada? Seriam poucas autoridades convidadas. O epicentro é o jovem. Os que puderam pagar uma taxa mínima ou não podem pagar nada seriam solicitados a dar um belo sorriso e estaria inscrito sem pestanejar. Seria o Jamboree do Melhor Possível do Sempre Alerta gostoso, do Servir e da vontade de ser mais um. E todos serão convidados a trazer a moeda da boa ação, afinal boas ações dignificam o caráter. Teremos algumas exigências. Deverão vir com suas patrulhas completas ou quase, pois será um Jamboree onde o Sistema de Patrulhas o aprender fazendo e a técnica escoteira teria prioridade. E as atividades aventureiras? Demais! Vamos exigir garbo e boa apresentação. Todos poderão durante o Jamboree lavar e passar a moda escoteira seu uniforme escolhido. Façam a lista do material, deixem a tralha pronta para ser usada. Logo o Brasil irá ver na terra no ar e no mar a escoteirada chegando.

              Atenção! Iremos convidar o Espirito de BP. Não sei se vem, pois anda meio decepcionado conosco. Até deixou escrito: - “Acorde chefe, vá trabalhar! você só tem um dia na vida, portanto aproveite cada minuto. Dormirá melhor quando chegar a hora de dormir, se tiver trabalhado ativamente durante o dia inteiro. A felicidade será sua se você remar a sua canoa como deve. Desejo de todo o coração que tenha sucesso e na linguagem escoteira:” BOM ACAMPAMENTO”.


                 Falar mais o que? Sei que são sonhos, mas como é bom sonhar. Já pensou se pudesse ser verdade? Bom demais. E olhem nunca irei parar de sonhar. Quem sabe algum dia teremos um Jamboree como este?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Comentários de Baden-Powell.


Comentários de Baden-Powell.

Religião
Relacionada muito próximo com a educação, temos a importante questão da religião. Resumidamente não apoiamos qualquer uma das formas de professar a fé mais que outras, procuramos um caminho para colocar este princípio em prática como fazemos em outros ramos da educação, ou seja, colocamos os jovens em contato com seu objetivo de fazer seu dever para com Deus por intermédio de seu dever para com o próximo. Ajudando os outros fazendo diariamente uma boa ação, salvando alguém do perigo, adquire-se a coragem, autodisciplina, cavalheirismo, que se tornam rapidamente parte de seu caráter. Esses atributos, juntamente com o correto estudo da Natureza, devem inevitavelmente ajudar a conduzir a alma do jovem mais próximo à espiritualidade com Deus.

Pessoalmente tenho minhas próprias opiniões quanto ao valor relativo do ensino das Escrituras às crianças nas escolas dominicais, e o valor do estudo da natureza e da prática da religião ao ar livre, mas não vou impor minhas opiniões pessoais aos outros.

Prefiro ser guiado pela opinião coletiva de homens experientes, e aqui uma notável promessa está diante de nós. O Escotismo tem sido descrito por diversas pessoas de respeitável reputação como uma “nova religião” – três vezes li isto nesta semana. Não é, naturalmente, uma “nova religião”, é simplesmente a aplicação na religião de princípios agora aprovados por secular tradição – aquele que dá um objetivo definido e coloca a criança para aprender e praticar para si própria – o qual, imagino que de todas as experiências que terá, será o único treinamento que realmente manterá a pessoa no bem, e finalmente fará parte de seu caráter.

Janeiro de 1912

domingo, 8 de janeiro de 2017

76 anos sem Baden-Powell.


76 anos sem Baden-Powell.

            Hoje está fazendo 76 anos que faleceu o nosso fundador Robert Stephenson Smyth Baden-Powell. Sua vida foi um exemplo e com um carisma que o tornaram um dos maiores homens da sua época. Herói inglês de muitas aventuras conseguiu criar o maior movimento de jovens do mundo. Conhecido em cada cidade ou país neste planeta, fez historias dando aos jovens um Movimento que além de saciar a sede de aventuras, os tornaram heróis, vivenciando um método único na arte de aprender a fazer fazendo. Todos aqueles que tiveram a felicidade de participar do Escotismo sabem sua historia. Coberta de glórias e aventuras foi considerado o Escoteiro Chefe Mundial por onde passava e fazia expandir seu movimento de coração.

             Mas ainda não aprendemos a ser imortais, a não ser na alma e na memória. Em 1937 com a saúde claudicante e antes de completar 80 anos de idade, aconselhado pelo seu médico ele e sua esposa Olave resolveram morar no Quênia, na Africa, em uma propriedade chamada de PAXTU (paz para dois) em Nyeiri. Faltando um pouco mais de um mês para completar 84 anos, faleceu no dia oito de janeiro de 1941. Em suas memórias B-P. comentava que PAXTU era um lugar tranquilo e com um panorama maravilhoso, com uma vista cheia de montanhas de picos coberto de neve. Muito conhecida, deixou uma carta para ser publicado após sua morte, cujo dizeres demonstram sua história de vida sempre dedicada aos jovens de todo o mundo.

Caros escoteiros:

Se já vistes a peça Peter Pan, haveis de recordar-vos de como o chefe dos piratas estava sempre a fazer o seu discurso de despedida, porque receava que, quando lhe chegasse a hora de morrer, talvez não tivesse tempo para fazê-lo. Acontece-me coisa muito parecida e por isso, embora não esteja precisamente a morrer, morrerei qualquer dia e quero mandar-vos uma palavra de despedida.

Lembrai-vos de que é a última palavra que vos dirijo, por isso meditai-a. Passei uma vida felicíssima e desejo que cada um de vós seja igualmente feliz.
Creio que Deus nos colocou neste mundo encantador para sermos felizes e apreciarmos a vida. A felicidade não vem da riqueza, nem simplesmente do êxito de uma carreira, nem dos prazeres. Um passo para a felicidade é serdes saudáveis e fortes enquanto são rapazes, para poderes ser úteis e gozar a vida quando forem homens.

O estudo da natureza irá mostrar as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior.
Mas o melhor meio para alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros. Procurai deixar o mundo um pouco melhor de que o encontrastes e quando chegar a sua vez de morrer. Podeis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o tempo e fizestes todo o possível por praticar o bem.

Estai preparados desta maneira para viver e morrer felizes - apegai-vos sempre à vossa promessa escoteira - mesmo depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.
O Vosso Amigo
Descrição: http://www.cne-escutismo.pt/Portals/0/imagens/fotos/bp/bp_signature.gif

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Dizer palavrão não é próprio de Escoteiros.


Conversa ao pé do fogo.
Dizer palavrão não é próprio de Escoteiros.

                      Já publiquei vários artigos sobre o tema. Palavrão! Tenho visto muitos jovens escoteiros e chefes escrevendo comentando ou postando temas cheios de palavrões. Sinceramente não gosto. Não gosto mesmo. Não acho próprio para quem se diz membro de uma associação que tem uma lei e uma promessa. – Chefe! Todo mundo fala! – Pois é, mas eu não sou todo mundo. Sempre acreditei no respeito, no cavalheirismo, e minha caráter não me deixa aceitar passivamente tais atos principalmente para um movimento que se diz cheio de brios e éticas. - Mas Chefe! Até o Presidente fala! O Lula é bom em palavrão!– Não sou Presidente, não votei no Lula, não sou Doutor, não sou religioso para trazer as hostes da bem aventurança. Mas quando ouço alguém dizer um próximo a mim enrubesço e fico pensando... Afinal meus ouvidos que ouvem tantas coisas lindas e belas é obrigado a ouvir isto?

                      Na minha família o olhar de meu pai e de minha mãe quando falávamos um palavrão era como uma bomba na sala. Educadamente nos dizia que nunca mais devíamos falar e sim pedir desculpas. Quando Escoteiro era questão de honra na patrulha e na tropa não falar palavrão. Sempre em patrulha ou em Corte de Honra o Chefe fazia questão de lembrar-nos da lei e da promessa. Em acampamentos com outras patrulhas de diversas cidades, muitas delas não tinham papas na língua. Se o cozinheiro errasse coitado. Era palavrão para todo lado. Fazíamos questão de lembrar que isto não era próprio de escoteiros.

                     Sem faltar com o respeito nós adultos somos responsáveis para dar o exemplo. Os jovens nos copiam em tudo. Se em uma família o palavrão é comum, os filhos farão o mesmo. Eu sempre digo que respeito é bom e eu gosto. Uma vez um Chefe comentou que nos acampamentos nacionais, regionais e distritais, sejam os de aventuras ou Jamborees os palavrões andam soltos. Chefes rindo e dizendo os mais cabeludos palavrões. Chefes? Tenho lá minhas duvidas se são realmente chefes. Afirmo que o respeito é a maneira mais simples de educar. Sei que o respeito é uma norma internacional. Aceita inclusive por imperadores e reis. Sei que dizem hoje ser natural, pois todo mundo diz e fala. Não abro mão. É falta de respeito e educação. Não sou obrigado a ouvir o que não quero. Que adianta dizer que estamos formando homens e mulheres probos, decentes, leais, virtuosos e íntegros se não damos o exemplo que esperam de nós?

                    Não sei até onde hoje estão levando a sério a nossa Lei e Promessa. Não discrimino ninguém seja de onde for. Com a consciência tranquila afirmo que ninguém, mas ninguém mesmo tem o direito de dizer palavrões principalmente junto a crianças e os mais velhos. Só porque dizemos que iremos fazer o melhor possivel não nos dá o direito de dizer o que queremos. Se está escrito que o Escoteiro é limpo de corpo e alma, se pensamos que ele é puro nos pensamentos palavras e ações podemos dizer que se não fizermos o Melhor Possivel para tentar acertar não estaremos aptos a chefiar meninos que muito esperam de nós. Chefe! Não somos santos! – Sei que sim. Só no céu ou nas moradas do universo que cada doutrina tem santos. Aqui na terra em mundo de expiação e provas temos a obrigação de melhorar sempre.  

              Disseram-me que um grande escritor já escreveu o dicionário do palavrão brasileiro. Teve até noite de autógrafos. Um herói para muitos. Para mim não. Herói é outra coisa. Herói é o que fala e escreve sobre o amor, o respeito, a ética, o caráter, do aperto de mão sincero, do sorriso verdadeiro e saber que ele tem no coração Escoteiro a famosa dita: Espírito Escoteiro. Não me venham dizer que o palavrão é normal, pois não é. Já me disseram tantas coisas da modernidade que eu fico pensando se vale a pena ser moderno. Uma vez, há muitos anos visitei amigos que participavam de um grupo Escoteiro. Como sempre estava barbeado, banho tomado, lenço bem dobrado, meião nos “trinques”, sapato engraxado e unhas aparadas. Queria mostrar meus respeitos com os jovens que ali estavam. Jogavam futebol. Meu Deus! Quanto palavrão! O Chefe ria a vontade. Olhei para ele sério – Você acha graça? Isto é escotismo para você? Futebol? Palavrões? Dizer o que?

             Li um artigo de uma jovem mãe cujo nome não me lembro. Adorei o que ela escreveu. Fez-me ver que não estou sozinho nesta cruzada. Disse ela: - Outro dia li uma nota em uma coluna e contava que a quadra de tênis de um condomínio na Barra tinha sido interditada não por problemas de estrutura, obras nem nada, mas pela falta de educação dos frequentadores. De tão desbocados, eles – crianças, adolescente, jovens – começaram a incomodar tanto os vizinhos à quadra que o jeito foi fechá-la. Já tem um tempo que venho observando isso e me impressionado. Gente é meu ouvido que está ficando velho e chato ou as crianças andam desbocadas demais? Vejo crianças de sete, oito, dez anos falando palavrões que eu só fui falar na vida adulta e ainda assim me arrependo de ter adquirido esse hábito pouco fino. Tenho amigos que falam palavrões com os filhos normalmente e isso me faz lembrar-se do quão desbocado era meu pai. Só que meu pai nunca dirigiu um palavrão a mim ou a minha irmã e jamais admitiu que falássemos. Às vezes me sinto incomodada em locais públicos, como a praia ou o saguão de um cinema, em que adultos falam palavrões aos berros, sem a menor cerimônia, como se não houvesse crianças em volta. 

               - Continua ela: - Aí outro dia ouvi uma psicóloga que tem coluna numa rádio de notícias dizer que isso tem a ver com o código de cada família e que os pais podem conversar com os filhos e estabelecer as próprias regras, tipo esse palavrão pode, esse não pode. Sei lá, achei isso meio complicado e, considerando que uma hora não se tem mais controle sobre o vocabulário dos filhos mesmo, acho mais prático proibir enquanto crianças e adolescentes e estabelecer o limite do tolerável quando jovens e adultos. Mas que não quero ver minha filha na pracinha ou no play xingando os amigos ou berrando palavrões a esmo, ah, não quero mesmo.


                 Cada um tem seu livro arbítrio para dizer, falar, pensar e agir como acredita ser correto. Se isto acontece prefiro ficar longe, pois não vou sujar minha audição com o que não gosto e não aceito no Movimento Escoteiro ou fora dele.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017


A boa ação escoteira.
Por Lord Baden-Powell

O Centenário do Escotismo comemorou-se cem anos após o Acampamento Experimental de 1907, mas, quanto ao início das ideias de Baden-Powell para a juventude, que terão estado na origem do Escotismo, torna-se mais difícil uma localização no tempo. O Cerco de Mafeking fez de B-P um herói nacional, conhecido além-fronteiras e venerado no Império Britânico - tanto por adultos, como por jovens. Por essa altura, coexistiam na Inglaterra várias associações e clubes dedicadas à formação dos jovens, como a YMCA (Young Mens. Christian Association) e a Boys’ Brigade. Um desses clubes escreveu a B-P, que se encontrava a braços com a formação da Polícia Sul Africana, pedindo-lhe que enviasse uma mensagem para os seus rapazes. B-P respondeu a 21 de Julho de 1901, a partir de Zuurfontein, no Transvaal (África do Sul), com uma mensagem alusiva a um dos aspectos que mais contribuiu para imortalizar a imagem do escoteiro: a Boa Ação!

Meus caros rapazes,
O regulamento da vossa associação obriga-vos a manterem-se longe das bebidas, do tabaco, do jogo ilícito, do uso dos palavrões, etc. Não há nada melhor do que seguir essas regras e admiro-vos por as seguirem. Outros rapazes, que não têm a coragem de se juntar a vocês nem de se manterem fiéis a essas regras, provavelmente ganharão maus hábitos dos quais nunca se conseguirão libertar e, em muitos casos, as suas vidas tornar-se-ão histórias de miséria e fracasso: enquanto que vocês, saindo do vosso clube sóbrio e com a mente limpa, provavelmente sair-se-ão bem na vida, quando crescerem – se continuarem a aderir a essas regras.

Mas lembrem-se disto: Quando os soldados defendem um local, não ficam sentados, mas lançam contra-ataques para fazer debandar o inimigo. Por isso, não devem contentar-se em ficar sentados para se defenderem dos maus hábitos, mas devem também ser ativos para fazer o bem. Por “fazer o bem” quero dizer tornarem-se úteis e fazerem pequenos gestos de bondade a outras pessoas – sejam amigos ou desconhecidos. Não é algo difícil, e a melhor maneira de concretizá-lo é decidirem fazer pelo menos uma “boa ação” a alguém todos os dias, ganhando, assim, o hábito de fazerem sempre boas ações. Não importa o quão pequena possa ser a “boa ação” – nem que seja apenas ajudar uma senhora de idade a atravessar a rua, ou dizer uma palavra amiga em favor de alguém que foi difamado. O importante é fazer algo.


Quando um homem está a morrer, não está com tanto medo de morrer como de sentir que podia ter feito melhor uso do seu tempo enquanto viveu. O homem que fez “boas ações” toda a sua vida não tem nada a temer quando estiver a morrer.  Se esse homem sentir que fez algo de bom aos seus semelhantes sentir-se-á ainda mais feliz do que aquele que apenas se manteve afastado dos maus hábitos. Por isso, sugiro a cada um de vós, que leem esta carta, que devem, não só afastar-se da bebida e dos maus caminhos que lhe estão associados, mas também tentar. Fazer boas ações às pessoas à vossa volta”. Podem começar já hoje e, se quiserem escrever e contar-me sobre a vossa primeira “boa ação”, terei todo o gosto em conhecê-la.”.